O cidadão comum

Li, na minha juventude, o livro de ensinamentos de um velho mestre que ministrava na altura o longo percurso de aprendizagem e formação de uma arte marcial, de que ele era um extraordinário executante e exímio pedagogo.
De tudo o que li nesse manual, cujos ensinamentos estavam muito para além da prática daquela arte, memorizei para sempre aquele que era o primeiro degrau a atingir e a operar sobre o espírito do praticante:

Perante a agressão de um adversário inesperado, antes de tudo, observa-o. Vê como age. É provável que erre. Toda a adversidade é um erro”.

Levei a sério essa prática e vim depois a constatar o quanto a mesma encerra de verdadeiro. O ensinamento prossegue e diz que no momento certo, com a habilidade necessária, é possível reverter a força brutal do erro, de forma a derrubar o adversário.

Talvez por isso, perante a adversidade imposta por uma conjuntura absurda e desgastante, tenha decidido colocar-me onde estou, no lugar do cidadão comum, e observar. Já que confrontar o establishment dentro da sua própria arena, é sobretudo desvantajoso. 

Perante a aberração sistémica que o cidadão comum é obrigado a suportar no fastidioso “mundo dos mercados” – o valor do seu trabalho é tratado como uma mera mais-valia – o que lhe resta é encetar a denúncia da violação descarada da sua privacidade e dos seus direitos fundamentais. Expô-la no sitio público. À vista de todos, para não se camuflar sob a benevolência nem agir sob a legalidade de um Estado manietado e submisso, cuja covardia silenciosa arrastou o incauto cidadão comum para o limiar da sustentabilidade.

A vida é assim. Composta de Côncavo e Convexo. A coisa mais sublime aos meus olhos é uma aberração aos olhos de outro. Não nos devemos então deixar conduzir pela cegueira, ou acabaremos todos como na parábola, cegos, conduzidos por cegos, a cair no buraco.
O Homem revoltado não nasceu das cinzas de outro Homem. O Homem revoltado é aquele que enfrenta a sua impotência, não perante a adversidade da vida, mas sim frente à diversidade do Outro.

Ao longo de vários anos observei e reuni a matéria prima que considerei essencial para se conseguir uma visão alargada do processum.
É apenas um caso, uma história comum a muitos outros cidadãos, silenciados e sem capacidade de resposta, porque também eles manietados por autoridades obscenas, que não hesitam em sacrificá-lo com a  “execução”, nem em condená-lo para resto da vida a sustentar o enriquecimento abstruso dos grandes “accionistas” e do seu exército de parasitas.

Está já online o cidadaocomum.com

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Faro, 7 de Dezembro de 2018
Álvaro de Mendonça, editor

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