O INÍCIO DA “LAVAGEM”
A queda do Lehman Brothers obrigou a grande Sociedade Portugesa de Investimentos a procurar dinheiro por outras paragens?
Regressemos a Dezembro de 2008: — Isabel dos Santos compra 9,7% do BPI — “Por imposição de Luanda, os bancos nacionais tiveram de abrir o capital das suas instituições no país a investidores locais“.
Estávamos no fim de 2008, em plena crise dos subprime, a Grande Bolha Americana.
Fernando Ulrich era o Presidente Executivo do Banco Português de Investimento [a ex SPI, que se transformara em banco privado e absorvera parte significativa da banca comercial, incluindo o mercado africano].
O Mercado de Capitais ainda estremecia com o colapso financeiro de um dos maiores Bancos Americanos. A Bolha, instalava-se em larga escala afectando a generalidade dos bancos comerciais e de gestão de activos.
O Estado é obrigado a intervir da forma dramática que hoje todos conhecemos injectando muitos milhões de euros que todos os contribuintes pagam, para evitar maiores estragos causados pela engenharia financeira dos bancos [Ainda estava longe o colapso do BES, mas já o BPN causava estragos imprevisíveis].
Largos milhares de vítimas anónimas em todo o mundo viram a sua vida desfeita devido à cobiça desmesurada dos banqueiros.
A desgraça alheia instalou-se em larga escala na sociedade civil portuguesa.
Caminhávamos a passos largos para a bancarrota. À crise financeira gerada pela banca juntar-se-ia a crise política gerada pela promiscuidade sem vergonha da classe…
A crise imobiliária internacional derivou directamente do comportamento criminoso da banca e as crises financeiras, políticas e sociais que atravessámos derivaram directamente do comportamento criminoso de governantes do País, alguns já condenados, e da corrupção e promiscuidade entre o poder político e o poder financeiro.
Uma coisa é certa: — “Não se pode esperar ou pedir às vítimas da Crise Financeira Imobiliária, a BOLHA, causada pela BANCA, que vejam diminuídos os seus direitos fundamentais, em especial, o direito à honra, à dignidade, à imagem e à integridade moral. Direitos inalienáveis e que a Constituição da República lhes reconhece e a Declaração Universal de Direitos Humanos defende”.
Fernando Ulrich, Personna non grata?
Enquanto a sociedade civil portuguesa enfrentava a desgraça alheia, o Banco BPI limava o investimento em Luanda, a joia da coroa, que lhe viria a render mais de mil e trezentos milhões de euros em 10 anos.
Em 2012, em pleno climax da crise política, financeira e social, o Excelentíssimo Banqueiro, o grande estratega do investimento, veio explicar a todos os portugueses como tinham que se aguentar, tal como os sem-abrigo e os gregos se aguentavam. Ao mesmo tempo, não fossem as crises dar para o torto, solidificava a sua presença em África. A parceria com Isabel dos Santos e os grandes magnatas, generais e homens de negócios Angolanos corria de vento em popa.
E o forrobodó durou até o BCE intervir para resolver o grave problema da “exposição a Angola”.
O senhor “Ai, aguenta, aguenta!” não aguentou
Porém, tudo acabaria “muito bem” numa tarde de Agosto de 2017… depois de envolvidos o Governador do Banco de Portugal, o Primeiro Ministro, o Presidente da Republica e a mulher mais rica de África. O Governo acabaria por “legislar” à medida da resolução do fenómeno financeiro que parecia extravasar as capacidades do Governador, obediente ao BCE, que preferia o silêncio… Após longas negociatas e inusitadas estratégias bancárias, todos os banqueiros ficaram satisfeitos com a nova dona do BPI. A velha Sociedade Portuguesa de Investimentos, fundada por 100 poderosos do Norte e alguns “estrangeiros”, passou a ser Espanhola. Mas limpa das manchas africanas.
Nesse mesmo ano Fernando Ulrich é o banqueiro mais bem pago de Portugal com o brutal encaixe de 1,2 milhões de euros.

“Muito investimento e muita lavagem”… preconizou Ana Gomes acerca dos grandes investimentos da mulher mais rica de África, antes de surgirem as revelações “ilegais” de Rui Pinto, divulgadas pelo ICIJ, onde é exposta a presença de “dos Santos” logo em 1981, quiçá entre os discretos investidores estrangeiros da poderosa SPI.
Na realidade, nunca saberemos quanto a rainha de África “investiu” através do Banco BPI, nem quanto dinheiro “lavou”, através de largos milhares de operações bancárias… muitas delas reveladas por Rui Pinto.
Fernando Ulrich também não sabe, certamente.
Talvez esteja na hora de todos aqueles que se aguentaram, as vítimas da desgraça alheia, atribuírem ao famigerado banqueiro o estatuto social de personna non grata, considerando os elevados serviços prestados à Nação.
Robin dos Bosques
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NOTA
personna non grata | loc.
personna non grata |pèrsónà nón grátà|
(locução latina que significa “pessoa que não é bem-vinda”)
locução
1. [Diplomacia] Diplomata ou representante que não será aceite com agrado pelo Estado junto do qual se pretende a acreditação.
2. Pessoa que não é bem-vinda.
“personna non grata”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/personna+non+grata.
[…] https://obancoeabolha.com/2020/02/20/ulrich-persona-non-grata/ […]